O projeto na industrialização da construção e a necessária coerência tecnológica

O projeto na industrialização da construção e a necessária coerência tecnológica

Na construção convencional, estamos acostumados com uma grande informalidade na definição dos projetos onde cada subsistema é definido de forma independente dos demais. Com isso, acontecem inúmeros problemas de interferências entre esses subsistemas com retrabalhos e consequentes perdas de produtividade, impactando assim bastante nos custos das obras. Na construção convencional é comum iniciar um serviço com a destruição parcial dos anteriores. A maior parte das interferências não são resolvidas nos projetos e são deixadas para serem resolvidas na obra. Cada projetista pensa no subsistema que está projetando e a coerência da construção como um todo é pouco alcançada.

Ao terminarmos uma obra, 100% das decisões foram tomadas, e parte significativa dessas decisões quando deixadas para serem resolvidas na obra, acontecem à revelia das equipes de projeto e até mesmo da engenharia da obra. O risco de patologias, baixa produtividade e retrabalhos é portanto muito presente na maioria das obras.

No desenvolvimento do projeto, é comum enviarmos o projeto arquitetônico para os projetistas de estrutura e sistemas prediais para darem suas soluções e depois pedimos para que conversem entre si para resolverem os eventuais problemas encontrados. A construtibilidade é pouco discutida e os coordenadores de projeto se preocupam mais com seus prazos de entrega do que com a sua coerência executiva.

A construção convencional permite esse tipo de abordagem, com alto grau de improviso, pois no processo construtivo convencional, o concreto e a argamassas “cobrem” e “resolvem” todas as imperfeições na obra. Entretanto, ao se adotar processos mais industrializados, com predominância de componentes industrializados e a “construção seca”, não podemos manter essa abordagem. O improviso não dá certo.

A construção mais industrializada requer um conjunto de projetos muito mais coerentes, bem resolvidos e detalhados de forma a obtermos assim o máximo de seus benefícios. Não permitem soluções construtivas pouco discutidas nem toleram decisões improvisadas. Todos os pontos têm que ser previamente estudados e compatibilizados principalmente nas suas conexões e na sua sequência construtiva. Essa análise pode ser feita para todo o conjunto de obras que a construtora executa de forma a padronizar as soluções e reduzir dessa forma o tempo de projeto. Quando fazemos isso, 90 a 95% das decisões de projetos são previamente tomadas, restando assim poucas decisões especificas que customizam cada edifício. Com isso, a produtividade do projeto é muito maior e seus prazos muito menores.

A essa coerência tecnológica previamente decidida, padronizada e documentada chamamos de PROCESSO CONSTRUTIVO. Ele antecede todos os projetos e orienta todas as soluções e decisões técnicas que serão tomadas. Os projetistas têm que se ater a essas diretrizes tecnológicas e não podem dar soluções de suas próprias cabeças. A prática de enviar o projeto arquitetônico para os projetistas e dizer “faz aí…” não pode ser portanto mais utilizada.

Um PROCESSO CONSTRUTIVO é desenvolvido com as seguintes premissas

  • Entender cada parte da obra (subsistemas adotados) em profundidade e seus respectivos componentes.
  • A velocidade que se quer dar nas obras.
  • Harmonizar arquitetonicamente as soluções construtivas e suas conexões.
  • Analisar e eliminar TODAS as interferências entre todos os subsistemas.
  • Entender o processo de descarga, transporte e montagem dos componentes bem como dos materiais e ferramentas envolvidas.
  • Analisar e definir a melhor sequência e a trajetória de todos os serviços da obra.
  • Definir as principais características e soluções para o projeto do canteiro de obra e seus equipamentos para viabilizar dessa forma a facilidade e a produtividade da construção.
  • Analisar e solucionar a terminalidade dos serviços e eliminar assim toda eventual possibilidade de retrabalho.
  • Priorizar a construção seca e montagem com parafuso, resinas e colas.

No processo de definição do processo construtivo é muito importante a análise completa dos custos de cada solução. Usar índices de orçamento sem uma análise completa de custos e de riscos, normalmente, induz a decisões erradas. Tomar decisões fáceis, baseando-se somente no custo direto do m2, faz com que fiquemos atados a processos do passado.

Muitas vezes, é necessário a adoção de uma tecnologia com algum risco de sobrecusto acreditando que sua melhor produtividade vai compensar no custo da obra como um todo. Importantes ganhos de produtividade e terminalidade com novos sistemas ainda não são conhecidos e não estão portanto registrados em planilhas orçamentárias. Custos orçados por referências de planilhas orçamentárias, embora sejam referências válidas, não podem ser consideradas verdades absolutas.

Se você quiser aumentar significativamente a produtividade da sua empresa, você deve começar estudando e definindo seu PROCESSO CONSTRUTIVO. A partir daí fazer com que seus projetos sejam a expressão dessa definição. É também muito importante medir a produtividade que estiver alcançando. A medição da produtividade vai orientar todos os próximos desenvolvimentos. Esse é um processo extremamente estimulante, desafiador e permanente, e um importante fator para motivar toda sua equipe.

Artigo de Luiz Henrique Ceotto, professor de pós-graduação na Escola Politécnica da Universidade de São Paullo (USP)
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