Industrialização é caminho sem volta na construção civil

Industrialização é caminho sem volta na construção civil

A industrialização na construção civil é um caminho sem volta e mais do que necessário para atender a demandas emergenciais do setor como escassez aguda de mão de obra e redução do impacto ambiental da atividade. Essa é a conclusão de analistas, entidades de classe e incorporadoras.

Dados da pesquisa “Sondagem da construção em sistemas industrializados — FGV/Ibre 2024”, apresentados pelo Secovi-SP durante o Seminário AsBEA-SP — Projetando para a Construção de Edifícios Residenciais Industrializados, realizado em outubro, mostram que 64,5% das 510 empresas consultadas já utilizam componentes produzidos em plantas industriais que, posteriormente, são montados em canteiros de obras.

Desse total, metade (50,8%) está relacionada a projetos residenciais; outros 41,2% representam prédios de escritório; e 37,5%, obras de infraestrutura.

O seminário aconteceu dentro da 1ª edição do evento Modern Construction Show, na capital paulista, e contou ainda com a participação do escritório de arquitetura britânico HTA, que assina o empreendimento residencial industrializado mais alto do mundo: College Road, em Londres, com 50 andares. “Nos últimos anos, a construção civil no país já vinha passando por uma racionalização de seus processos. Agora, o caminho natural é a industrialização, que tem um cenário favorável pela frente”, afirma Robertto Freitas, vice-presidente de Expansão da AsBEA-SP.

Segundo ele, a virada de chave do setor pode ser acelerada em razão de uma conjunção de fatores: o avanço da tecnologia ligada à produção; a possibilidade de redução de impostos com a reforma tributária proposta pelo governo federal; e a crescente escassez de novos trabalhadores na construção civil, o que tem levado as incorporadoras a investir em itens pré-fabricados fora da obra.

“A idade média das pessoas que atuam no setor tem subido e não há reposição dos que se aposentam. Os mais jovens não querem trabalhar na construção, preferem ser motoristas de aplicativo”, analisa Freitas.

No canteiro de obras do Parque Global, na Zona Sul de São Paulo, mais de 30% dos processos construtivos já são industrializados. As cinco torres residenciais, por exemplo, receberam placas de alvenaria fabricadas “off-site” e instaladas no local.

“Não temos mais pedreiros levantando as paredes, mas montadores de placas internas e de fachadas. Com uma dupla de trabalhadores, consigo montar 120 metros quadrados de parede por dia. No método convencional, tijolo a tijolo, seria preciso quatro pessoas, e só chegaríamos a 80 metros: 34% a menos”, diz Luciano do Amaral, diretor de Operações e Engenharia da Benx Incorporadora.

Segundo Amaral, outro projeto da empresa, na Vila Olímpia, é ainda mais audacioso: o corporativo Berrini One, que equilibra seus 16 andares em uma estrutura 100% metálica. “Esse tipo de estrutura pesa 42% menos do que as de concreto, suporta vãos mais extensos e é mais rápido de instalar. O prédio é erguido em 30 meses, em vez dos 36 gastos no material convencional”, conta o diretor.

Com essa redução no prazo de obra, Amaral diz que consegue absorver o custo extra do material, cerca de 6% mais caro do que o concreto. Outra vantagem seria o aspecto sustentável da industrialização. “Nesse método, consigo acelerar a logística reversa: o aço excedente é recomprado pelo fornecedor, resíduos cimentícios são trocados por créditos financeiros, e sobras de ‘drywall’ seguem para reciclagem. No final, é uma obra muito mais limpa”, compara Amaral.

Dinâmica dos processos

A crescente adesão ao novo método tem demandado novas tecnologias de gestão, a fim de suportar a mudança na dinâmica dos processos.

Em Blumenau (SC), a Senior Sistemas, especializada em soluções de planejamento empresarial, tem notado um aumento na procura das companhias imobiliárias por recursos mais modernos de gerenciamento. “São ferramentas de inteligência artificial que ajudam na gestão de pessoal, na triagem e na contratação de talentos, no gerenciamento de obra e fornecedores, desde os pagamentos até a fase de venda das unidades”, explica Marcelo Xavier, diretor de Construção da Senior.

Para José Carlos Martins, presidente do Conselho Consultivo da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (Cbic), com processos mais bem controlados, é reduzido também o desperdício de recursos como água e energia, além da emissão de resíduos na obra.

“Tudo isso causa um impacto positivo nas políticas de ESG das empresas do setor”, acredita Martins, informando que já se verifica um crescimento na adoção do método, com o maior uso de fachadas pré-fabricadas, banheiros prontos e madeira engenheirada. “Com a pressão da barreira da mão de obra, somada à oportunidade tributária que está se desenhando no país, devemos ter um aumento ainda mais significativo do conteúdo industrializado na construção civil nos próximos anos”, afirma.

Amaral, da Benx, define o momento: “Antigamente, a empresa pensava em industrializar os processos construtivos para se diferenciar no mercado. Hoje, a conjuntura do setor e do mundo tornou esse pensamento uma obrigação”.

Fonte: Valor Econômico

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