A integração de tecnologias fotovoltaicas em fachadas e coberturas pode contribuir significativamente para a diminuição da pegada de carbono das cidades, promovendo ambientes urbanos mais sustentáveis e resilientes às mudanças climáticas.
Em meio à crescente preocupação global com as mudanças climáticas e a busca por soluções sustentáveis, a arquitetura solar emerge como um farol de inovação e esperança. As edificações são responsáveis por 50% de toda energia elétrica consumida no mundo e, à medida que a população aumenta e as cidades se expandem, intensifica-se a necessidade de abordagens de design e construção que minimizem a pegada de carbono urbana. Neste cenário, a arquitetura solar, particularmente através da integração de tecnologias fotovoltaicas em coberturas e fachadas, apresenta uma oportunidade única de contribuir para a criação de ambientes mais sustentáveis e resilientes.
Fonte inesgotável
A energia solar, por sua natureza limpa e renovável, está no centro da transformação para uma urbanização mais sustentável. Com 70 anos de história, a tecnologia fotovoltaica já está mundialmente consolidada e difundida como uma opção economicamente viável e confiável. A energia emitida pelo sol atinge diariamente telhados e fachadas, aquecendo ambientes e requisitando mecanismos passivos ou energéticos para melhorar o conforto térmico dos usuários. A incorporação de sistemas fotovoltaicos em edifícios não apenas reduz a dependência de combustíveis fósseis, mas também diminui significativamente as emissões de gases de efeito estufa associadas à operação e manutenção de edifícios.
Integração funcional da energia solar na arquitetura
Quando a tecnologia fotovoltaica se integra às edificações de forma funcional, ela é denominada BIPV, sigla que vem de building-integrated photovoltaics, oferecendo uma estética inovadora que vai muito além da simples aplicação de módulos convencionais sobre telhados.
Fachadas coloridas, fachadas ventiladas, claraboias, brises, pergolados e carports também podem gerar energia, contribuindo para a autossuficiência energética dos edifícios e, por extensão, das cidades. Além disso, o uso das superfícies da arquitetura representa uma significativa ampliação da área disponível para geração energia em centros urbanos sem a necessidade de utilização de áreas de solo apenas para esta finalidade. Esta característica torna-se especialmente interessante em ambientes urbanos densamente construídos.
Benefícios além da geração de energia
A arquitetura solar também desempenha um papel importante no uso mais eficiente da energia. Em soluções como as fachadas ventiladas, o calor é dissipado entre os módulos e a parede externa, minimizando o ganho térmico do ambiente e, consequentemente, reduzindo a necessidade do condicionamento de ar. Já em soluções onde módulos fotovoltaicos são usados em coberturas ou fachadas, há um controle da iluminação e temperatura através dos graus de transparência dos módulos, otimizando o uso da iluminação natural e, mais uma vez, controlando o ganho térmico. Assim, edifícios equipados com tecnologia solar podem oferecer espaços mais confortáveis e saudáveis para seus ocupantes de forma sustentável.
Além dos benefícios energéticos, há a valorização de imóveis que possuem energia solar. Para se ter uma ideia, instalações convencionais de módulos fotovoltaicos sobre telhados já elevam em 10% o valor dos imóveis. Agora imagina a valorização de soluções que além de gerar energia ainda contribuem para a estética, para o marketing da empresa e para o uso eficiente da energia? Com certeza será ainda maior!
Do ponto de vista urbano, gerar energia nas edificações, ou seja, junto à carga, é importante pois reduz a necessidade de transmissão de energia de longa distância, reduz as perdas energéticas e minimiza a necessidade de ampliação e estresse na infraestrutura de rede.
Desafios e oportunidades
A integração da arquitetura solar nas cidades não está isenta de desafios. Questões como o desconhecimento das possibilidades existentes, falta de profissionais aptos a projetar e sugerir soluções de arquitetura solar, mão-de-obra qualificada, equipamentos disponíveis no mercado, adequação estética e o custo inicial de instalação, são preocupações comuns. Contudo, os avanços tecnológicos continuam a reduzir essas barreiras, tornando a energia solar cada vez mais acessível e versátil. Além disso, tais desafios são também um sinal da grande oportunidade que há para quem estiver disposto a ingressar neste mercado. A arquitetura solar é uma forte tendência e já está tendo um crescimento expressivo no Brasil e no mundo.
O futuro da arquitetura é solar
A arquitetura solar oferece uma via promissora para reduzir o impacto ambiental das cidades, alinhando inovação, estética e sustentabilidade. Ao transformar os edifícios e infraestruturas urbanas em geradores de energia limpa, não apenas avançamos em direção a uma maior sustentabilidade ambiental, mas também melhoramos a qualidade de vida nas cidades. A integração bem-sucedida da energia solar na arquitetura urbana requer uma abordagem colaborativa, envolvendo arquitetos, engenheiros, urbanistas, autoridades locais e a comunidade. Juntos, podemos redesenhar um futuro urbano cada vez mais sustentável.
Artigo de Clarissa Zomer, arquiteta e doutora em engenharia civil, foi publicado originalmente na PV Magazine